Tese: A relação entre música e felicidade em Santo Agostinho 
Autor(a): Janduí Evangelista de Oliveira 
Programa: Integrado de Doutorado em Filosofia 
Instituição: Universidade Federal da Paraíba 
Publicação: 2019 
Fonte do artigo: envio do autor


Resumo:
O emprego da música na busca da felicidade não é privilégio de nossa época, onde estão em moda as chamadas musicoterapias com vista ao bem-estar do homem frente ao mal-estar da complexa sociedade pós-moderna. Ao contrário do que se possa supor, essas duas temáticas estão presentes nas investigações filosóficas desde o nascimento da filosofia. Nesse sentido, em Atenas, encontram-se as primeiras apologias da felicidade, dissociada do mundo sensível e inteiramente relacionada à boa vida da alma. Igualmente, enquanto componente curricular da educação grega, a música exercia um papel de grande relevância, pois suas conexões com outros campos do saber ultrapassam o sentido comum do que se costuma entender por música, isto é, como um fenômeno audível, que pode ser percebido sensorialmente. Contudo, apesar de estarem presentes nas investigações filosóficas, a música e a felicidade sempre foram tratadas isoladamente, independentes e praticamente sem nenhuma vinculação. Em vista disso, decorre o erro de se compreender a música apenas como um produto destinado ao lazer, o que implica na compreensão de uma felicidade desconectada da interioridade humana. Esse tipo de abordagem da música e da felicidade como coisas desconexas, se estendeu também pela Idade Média com algumas variações, conforme discutiremos a seguir, quando tratarmos do pensamento de Santo Agostinho. Para tanto, apresentaremos as principais raízes filosóficas do pensamento greco-romano, que inspirou Agostinho e ao mesmo tempo, exporemos suas particularidades no tocante a estas questões. Assim, ao lermos aquilo que o Bispo de Hipona abordou no conjunto geral de sua obra sobre a música e a felicidade, é digno notar que ele procurou que seria evitar admitir aquilo que, para ele, foi um grande equívoco das investigações anteriores, o de defender que a verdadeira felicidade dependeria exclusivamente do esforço pessoal de cada um, à medida que para ser feliz bastava tão somente viver em conformidade com a razão. E por outro lado, evitou limitar o valor da música somente à ciência da boa modulação e por isso procurou moderar o prazer sensível em função dos prazeres espirituais. Com isso, a música é elevada à categoria de uma fruíção transcendente e suprassensível, ponto de encontro do humano com o divino, fonte da verdadeira felicidade. Portanto, nota-se a existência da convergência entre a música e a felicidade, uma vez que, se a verdadeira felicidade está ao alcance do Sumo Bem, que em última instância é Deus, a verdadeira música é aquela que favorece a ascensão ao Sumo Bem. Logo, a música estabelece uma harmoniosa ponte entre a beleza sensível e a Beleza Suprema e Criadora, fonte da autêntica felicidade. Porém, a investigação da influência da música sobre a felicidade não é fácil, pois tem-se intensificado em nossos dias a oferta desmedida e uma procura desenfreada por felicidade, assim como, a produção e consumo da música entendida apenas como um elemento voltado para as paixões humanas. Por essa razão, defendemos que o hábito de ouvir uma boa música contribui efetivamente, para a conquista da felicidade, sobretudo, porque a música que habitualmente ouvimos, tende a representar traços importantes da nossa personalidade, ideias e princípios morais. Com isso, esperamos desenvolver a sensibilidade do nosso leitor, à fim de criar nele o hábito de ouvir música com mais cuidado.  Primeiramente, porque a música não é um simples aglomerado de sons; ela tem um ritmo e, ao mesmo tempo, coesão e harmonia; possui uma estrutura e uma profundidade própria, que pode ser posta a serviço da felicidade humana. Para tanto, se faz necessário mostrar, de fato, o que é a felicidade e a música para Santo Agostinho e depois trabalhar os aspectos, que nos permite mostrar a relação existente entre elas.