Assiste-me a certeza de que os conterrâneos que tenham de 50 anos de idade acima, farão um verdadeiro passeio pelo roteiro sentimental da nossa pacata cidade, ao lerem estas despretensiosas páginas de saudades. Um referencial toponímico que já se encontra desaparecido, como os já mencionados no artigo anterior, foi o que os populares batizaram como sendo “O BARREIRO DE ADEMAR CAVEJA”. Em 1948 o então governador do estado Dr. José Varela, que fora eleito em 1945 com o apoio do grande líder político Coronel LUCAS PINTO, atendeu a um pleito deste, e deu início, no ano de 1947, a pavimentação da estrada de rodagem, ligando Mossoró à cidade de Apodi. A estrada foi feita seguindo a picada do fio do telégrafo, desmatando-a e enlanguecendo-a, para posterior base feita com carradas de piçarra, fazendo-se terraplanagem. Onde antes passavam riachos e córregos, foram construídos bueiros e pequenas pontes.
Antes de 1948 não existia essa estrada para Mossoró, sendo certo que resumia-se apenas a uma estreita estrada carroçável, que atravessava a várzea de Apodi até o lugar conhecido como "Brejo do Apodi", (atualmente município de Felipe Guerra), onde passava a seguir margeando o rio Apodi, atravessando-o 22 vezes antes de chegar à cidade de Mossoró.
Observe-se que em 1948 a cidade restringia-se até ali onde ficava o começo da Rua Marechal Deodoro, por trás do Posto Brasília, de Sêo Chico Paulo. Quando a estrada ficou pronta até Apodi, foi feita a terraplanagem daquele trecho da BR 405 que passa ao lado da madeireira que fica quase em frente à Mercearia Frei Damião, de Tetéia. Segundo Jacinto Paulino, que acompanhou de perto este trabalho, foram despejadas 50 carradas de piçarra para fazer o aterro do lugar onde hoje se encontra a casa do Sr. Zé Rita, até a parte que hoje passa ao lado da mercearia de Tetéia. Lembro-me que o nível da estrada ficou alta em relação ao antigo nível, passando a estrada a funcionar como uma espécie de parede de açude, sendo certo que durante o período invernoso formava um pequeno lago, que ao se adentrar até o meio, atingia uma lâmina d'água que dava para cobrir um homem de média estatura, com os braços levantados. Quando o inverno iniciava, com poucas águas que afluíam para o lugar ao lado da estrada, formava dois barreiros, dado o fato de que existia uma elevação entre um buraco e outro. Com um inverno considerado bom, os dois barreiros transformavam-se em um só, dado a junção do volume d'água dos dois barreiros. Era a alegria da meninada do meu tempo. Muitas vezes banhei-me neste barreiro, dando saltos da estrada para o barreiro, onde lépido e saltitante, dava pernadas pra todos os lados, dando vazão às minhas traquinagens de menino peralta. Os proprietários de "carros de passeio" (Jeeps e Rural) e caminhões lavavam os mesmos no "BARREIRO DE SÊO ADEMAR CAVEJA". A denominação toponímica deve-se ao fato de que dito barreiro situava-se em terreno pertencente ao seu Ademar Leão da Silveira, conhecido como Ademar Caveja, que por sua vez foi o pai de Tetéia, Azumar, Fãico e outros. Pois bem, a madeireira está construída exatamente sobre o lugar onde situava-se o dito barreiro.
Outro lugar outrora constante da zona urbana da cidade recebia a denominação toponímica de "VERTENTES DE ANTONIO LIMA". Já depreende-se que trata-se de um lugar onde existe um "Olho d'água", denominação dada a um lençol freático que jorra na superfície do solo uma água límpida e cristalina. Essas "Vertentes" situavam-se, antigamente, em terras do Sr. ANTONIO LIMA, à época subúrbio da cidade. "Sêo" Antonio Lima tinha o nome civil de ANTONIO FERREIRA LIMA, nascido no ano de 1865, filho legítimo de Bento Joaquim Barbosa e de Antonia Ferreira Lima. Casou com MARIA ANSELMO DE LIMA, filha de Feliciano Bezerra de Menezes Torres e de Antonia Mafalda de Lima. Antonio Lima e Maria Anselmo foram os pais de D. Tilde, casada com seu Rapôsinho, por sua vez pais de Olavo, Antonio e Socorro. O terreno onde encontra-se estas "Vertentes" foi posteriormente adquirido por compra feita por TUZIM ALBUQUERQUE, e fica atualmente próximo à antiga rodoviária da cidade, já desativada.
Os passos continuam na caminhada reminiscente da saudade sem fim, e chegam ao antigo lugar denominado de "POÇO DE SÊO BEIJA". Esta pequena porção de terras situava-se depois do antigo término da Rua Marechal Floriano, ou seja, a última casa da rua ficava exatamente defronte à parte traseira do Banco do Brasil. Seguindo-se no rumo da lagoa, começava a pequena gleba de terra pertencente ao Sr. BENJAMIN ALVES DE OLIVEIRA, conhecido popularmente como sendo "Sêo Beija", que vem a ser o avô paterno de Dona Maria do Carmo, esposa do Sr. Neném Holanda, e meu bisavô paterno, posto que pai de minha avó paterna a matriarca Dona Nicinha de Aristides Pinto. Até os anos 80, quem seguia para "tomar" banho na lagoa, no lugar conhecido como "Poço dos Homens", passava ao lado do "Poço de Sêo Beija", que depois passou a pertencer ao seu filho Inácio Maia, que por sua vez deu-o ao seu filho Itamar Maia. O referencial "Poço" deve-se ao fato de que na dita gleba existia um grande cacimbão ao qual passaram a denominar de "poço".
Que estes registros fiquem amalgamados nos anais da história da cidade, para que nunca sejam esquecidos, para que sejam sempre lembrados tempo afora, como se fossem denominações toponímicas da atualidade, para que as gerações atuais e futuras saibam da imensa gama de denominações de lugares que gravitavam na mente de nossos avós.
Blog ApodDiário
Por Marcos Pinto - historiador apodiense