VICÊNCIA FRANCISCA MOTA, nasceu em 1905, no município de Apodi-RN. Iniciou sua vida de rezadeira-benzedeira ainda muito jovem. Trabalhou durante quarenta anos amenizando e curando o sofrimento e a dor do povo de Apodi e de cidades circunvizinhas. As pessoas a procuravam para aliviar o sofrimento de doenças que na medicina não havia cura. Ajudava pessoas de todas as faixas etárias, desde a criança recém-nascida até o idoso em fase final da vida. Em 20 de dezembro de 1974, Dona Vicência faleceu aos 69 anos de idade, deixando órfã uma população que ela curou na sua incansável luta em prol da saúde e do bem estar do povo de Apodi.
De Dona Vicência, a rezadeira do povo, contavam-se muitos atos de piedade e dedicação. Mulher simples, originária do meio rural, porém de muita sapiência, praticava em sue dia-a-dia um composto de atos de fé e de amor, indispensáveis às almas abatidas. O agropecuarista João de Neném, ao descrevê-la afirmava tratar-se “da mulher da boca mais Santa que havia conhecido”. Tão eficientes eram as suas curas, que de lugarejos distantes vinha gente à sua procura. Ninguém voltava de sua porta sem que antes fosse abençoado por suas curas misericordiosas.
Tratava-se de uma mulher brava, corajosa e hábil, que enfrentava as mais difíceis situações da vida, com a virtude de jamais proferir blasfêmias, pois pertencia a uma casta de mulheres eficientes, que acreditavam na vida e nas bonanças divinas, razão pela qual, de sua boa só se ouviam palavras afetuosas e de esperança.
Ao cabo de quase meio século de atuação como rezadeira, Dona Vicência dedicou-se integralmente à sagrada arte de curar mazelas. Através das suas curas, ora acompanhadas por um ramo verde de planta, ora por uma agulha com linha e tecido, salvaram-se centenas de vidas. Cumpria com amor e bravura, uma missão dedicada à prática do bem, cujas consequências foram a conquista do respeito e a captação das admirações gerais de toda a sociedade apodiense.
Numa bela tarde ensolarada, Dona Vicência partiu, repentinamente, comovendo Apodi profundamente. Certamente continua, do assento etéreo, onde se encontra, a rezar por aqueles que adoecem e não vislumbram mais a volta de sua saúde, mas acreditam que somente a fé inquebrantável da antiga rezadeira poderia lhes dar alento.
Fonte: Paisagens Femininas de Apodi - Vimaci Viana