Existem coisas que vemos,
Porque os olhos enxergam;
Mas não produzem no ser
O encanto da paisagem
Ao olhar, fazem sentir
Que estamos vendo à frente
O terror de uma visagem.

Há coisas que o tato sente
Mas não gosta de sentir
Diferente do carinho
As sensações que produzem
Arrepiam de temor
Sentimos porque vivemos
Mas não nos fazem sorrir.

Há palavras que são ditas
Porque temos dicção
Elas saem pela boca
Parecendo um furação
Mas não produz em quem ouve
O som perfeito do amor
Do fundo do coração.

Há também o que se ouve
Porque o ouvido escuta
Mas até o tom de voz
Produz a música astuta
Que tenta levar o ouvinte
A viver grandes conflitos
Que pra sair, é uma luta.

Já as roupas que vestimos,
Às vezes não são bem próprias;
Mas somos nus, precisamos!
Encobrir o natural
Mas esses panos nojentos
Parecem nos fazer mal.

Às vezes o que comemos
Não nutre nem alimenta
É engolido à força
Que nem gosto de pimenta
Mas comemos pra mostrar
Que somos civilizados
E que podemos usar.

Já as nossas diversões
Com o tempo escorregam
Só promovem a alegria
De uma alma em trevas.
É por isso que às vezes
nos esvaímos em lágrimas
quando lembramos momentos
na existência tardia.

Outras vezes construímos
Só os sonhos absurdos
Não combinamos com a alma
Pra fazer os sonhos puros
Precisamos sentir dor
Como suporte alegórico
Para encontrar a calma.

Oh vida cheia de curvas!
Diz a nossa humanidade.
Na verdade ela é fútil
Quando não produz bondade.
Viver no mundo dos sonhos
É se esconder da verdade.

Mentir que não é errado
é sonhar em ser perfeito.
Escolher a perfeição
é sonhar sem ter direito,
pois só um homem na história
trouxe o dom de ser direito;
mesmo assim foi açoitado,
morto e crucificado
pra redimir nossos feitos.