Com relação aos índios do Apodi, conta Nonato Mota, que, depois da carnificina de Viçosa, em Portalegre, muitos dos indígenas que procuravam fugir para os Cariris foram caçados e presos, e a Cadeia da Vila ficou cheia deles, embora entre eles estivesse faltando a velha Cantofa e sua neta Jandy, que não fugiram e nem foram aprisionados. É que as as duas se ocultaram nas grutas da serra de Portalegre, à espera de uma melhor oportunidade para saírem em procura dos seus. 

As duas eram caçadas incessamente até que um dia foram encontradas dormindo embaixo de um cajueiro em, despertadas pelos seus perseguidores, começaram a cantar o ofício de Nossa Senhora..
Jandy, adivinhando a intenção daqueles homens, implorou em pranto, o perdão para a sua velha e queria avó, enquanto um dos sicários, aborrecido, cravou um punhal no peito da velha índia, que caiu fulminada, com uma torrente de sangue a puxar-lhe o peito. E Jandy desmaiou e caiu junto à sua avó. Os algozes as deixaram no local do crime, e, ao voltarem depois para enterrar o cadáver de Cantofa, não encontraram a menina e não tiveram qualquer noção do seu destino. 
Até hoje, se comenta em Portalegre que, por muito tempo, aquele lugar ficou mal-assombrado e diz-se que os viajantes noturnos, que por ali passavam, ouviam alguém a rezar o ofício de Nossa Senhora. 

Essa lenda, colhida e contada por Nonato Mota, imortalizou-se nos versos do desembargador Antonio Soares, a seguir:
"E Cantofa estendeu-se sobre o solo, 
numa onda de sangue mergulhada, 
caindo-lhe de bruços sobre o colo, 
o corpo da netinha desmaiada! 
Satisfeitas, assim, iras ferrenhas, 
os ímpios sem remorsos, sem pavor, 
regressaram, deixando lá nas brenhas
Jandy entregue à sua própria dor". 
No outro dia tornaram, com cuidado, 
ao sinistro local da mata escura, 
o cadáver jazia abandonado...
Cavaram-lhe, ali mesmo, a sepultura. 
Depois, muitas batidas foram dadas
de Portalegre às várzeas do Apodi, 
batidas infrutíferas, baldadas, 
ninguém soube notícias de Jandy. 
Até bem pouco a lenda nos atesta, 
rezas do ofício por ali se ouviam:
"Deus vos salve", "Era o eco da floresta";
"Deus vos salve", "As montanhas repetiam.

Fonte: Flagrantes das Várzeas do Apodi - José Leite(Separata de Pré-Lançamento)