A história da toponímia Apodiense traz em seu bojo um intrincado campo de interrogações quanto às origens referenciais atribuídas a pessoas, lugares e coisas. Neste contexto, adentremos a história da antiga "BAIXA DO VELHO OLEGÁRIO", denominação que só perdura na memória dos que já atingem a idade de 05 lustros (Cada lustro equivale a 15 anos). Esta baixa começa no sopé da ladeira de Apodi, cortada pela BR-405,em cuja gleba de terras encontra-se atualmente instalada a fonte de água mineral denominada de "Cristalina do Oeste". Este topônimo perdurou até a década de 1950, sendo totalmente desconhecido atualmente.
Recebeu a denominação popular de "BAIXA DO VELHO OLEGÁRIO", em decorrência do seguinte fato: No ano de 1950 chegou em Apodi o Sr. OLEGÁRIO INOCÊNCIO DE MEDEIROS, vindo dos sertões do Seridó, onde nasceu na fazenda " Do-minga" do município de Caicó, primitivo feudo territorial da famosa família MEDEIROS, com origem em Portugal. OLEGÁRIO era filho legítimo de Manoel Inocêncio de Medeiros e de Mariana Maria de Medeiros. Casou com sua prima em primeiro grau civil duplicado, conhecido como "Prima carnal", VIRGÍNIA VIRGÍLIA DE MEDEIROS.
Ao chegar em Apodi, de imediato comprou pequenas glebas de terras, anexas umas às outras, aos Srs. Felizardo e Júlio Jagunço, sendo certo que este Júlio recebera o apelido de "jagunço" por ter sido um dos muitos fanáticos romeiros do famoso Padre Cícero Romão Batista, e ter residido na fazenda do mesmo Padre Cícero, cuja fazenda recebera a denominação de "CALDEIRÃO" em cujas terras se estabeleceu o famoso Beato José Lourenço à frente de uma comunidade rural religiosa formada por ele. Segundo familiares do Sr. JÚLIO JAGUNÇO, o mesmo chegara em Apodi no ano de 1936, fugindo da perseguição empreendida pelo governo do Ceará às pessoas conhecidas como "Jagunços do Caldeirão". Viera acompanhado por uma irmã de nome Júlia e de um irmão por nome Manoel Jagunço. Em Setembro de 1936 houve o primeiro movimento de repressão à "Comunidade do Caldeirão".
Daí o motivo do êxodo dos irmãos "Jagunços" para o Apodi, acompanhando muitos Apodienses que tinha ido para a fazenda "Caldeirão" e que foram resgatados naquele rincão cearense em um caminhão do coronel Lucas Pinto, que acolheu-os na volta, protegendo-os de possíveis perseguições da polícia cearense. A brutal repressão aos infelizes camponeses/romeiros da fazenda "Caldeirão" deu-se no dia 12 de Maio de 1937, quando aviões sobrevoaram a fazenda, metralhando e soltando granadas sobre os casebres dos camponeses, fazendo um número desconhecido de vítimas. Foi um genocídio bárbaro. Homens, mulheres e crianças foram covardemente chacinados, atingidos por granadas atiradas dos aviões, acrescidos aos tiros e baionetas dos mais de 200 homens do 1º Batalhão de combate da Força Pública do Ceará, que de forma ensandecida atacaram a fazenda "Caldeirão".
As mortes foram tantas que os cadáveres eram enterrados em valas coletivas ou empilhados, para serem incinerados com gasolina, numa grande fogueira. É desconhecido até hoje o número de vítimas do massacre. Especula-se, entretanto, um número entre 300 a 1.000 mortes. (FONTE: Vide livro "PRECEDENTES E VERDADES HISTÓRICAS - PARTICIPAÇÃO DO NORDESTE NA LUTA DO POVO BRASILEIRO" - Autor: Rubens Coelho - FVR/ Coleção Mossoroense - Série C - Vol. 1492 - Outubro de 2005).
A informação quanto à terra de origem dos irmãos Jagunço nos foi transmitida pelo Antonio José de Andrade, popularmente conhecido como Sêo Antonio Broca, que tem um filho casado com uma neta do Sr. Manoel Jagunço, que foi o único que ficou em Apodi, tendo os dois irmãos Júlia e Júlio Jagunço retornado para o Ceará. Dos filhos do VELHO OLEGÁRIO, somente o filho de nome GERALDO OLEGÁRIO reside em Apodi, onde constituiu família. Sêo Olegário e demais filhos retornaram para o Seridó.
Copiado do: Blog Potyline
Por Marcos Pinto - historiador apodiense