Para: Válter de Brito Guerra
(in memoriam)

A vida passa tão depressa
e nessa pressa
nem percebemos
que as pessoas
se vão...
Somem
da vida da gente
repentinamente
sem sequer
termos tido um
tempo qualquer
para dizer um
“muito obrigado’’
Dar um abraço apertado
Foi assim com você
querido historiador,
grande escritor
Do nosso município
defensor
que a todos nós
deixou
relatou
retratou
com amor
ardor
sem temor
o valor da nossa terra querida
sem deixá-la
esquecida
perdida
esvaída
na história da vida
Você se foi
como o galo que campina
(seu pássaro predileto)
que não mais canta
ao romper da aurora
e a gente fica triste
e sente saudades do seu canto.
Ficou um vazio...
Sua voz emudeceu
nossa cultura
empalideceu
empobreceu
quase morreu
junto contigo.
Seus passos lentos
mas atentos
pelas ruas de Apodi
cessaram
não mais caminharam
como de costume.
Nossos corações
rasgaram-se
sangraram
choraram
diante da súbita ausência
daquele que foi presença
constante
significante
militante
no fazer
conhecer
acontecer
descrever
cada nosso amanhecer
histórico
notório.
Você se fez gente
presente
na vida
de cada apodiense
levando a nossa história
a outras gentes.
Resgatando
retratando
valorizando
as gerações passadas
fadadas
ao nada
ao esquecimento
mas com o seu talento
deste-nos de presente um grande legado:
“Apodi no Passado e no Presente,
Apodi Sua História,
Históricas e Vultos da minha Terra,
A derrota de um coronel,
Mistura de Frases e Palavras
A história de um Retirante’’.
Penso no seu trabalho...
Relíquia para todos nós
que amamos Apodi
Tua história é lembrada
não só nas páginas
dos seus livros,
mas como ser vivo
que fez um
percurso
a todo custo
rua acima
rua abaixo
sem deixar-se vencer
pelo cansaço
à procura de
fatos
relatos
para fazer cultura
uma mistura
de frases
palavras soltas
resultando em
documentários excelentes
da história de uma gente
que não se perdeu no tempo
passado
presente
visualizando o futuro
por causa de seu
sentimento
desprendimento
envolvimento
e por que não repetir talento?
Fizestes Jus ao
seu sobrenome GUERRA
Guerreastes nesta terra
para fazer cultura
pura
em meio às agruras
dessa vida dura
pelas ruas
escuras
obscuras
pedregosas
sinuosas
lutando pela
Barragem de Santa Cruz
como uma luz
clamando para que
a fauna
a flora
não fossem embora
Mas, você se foi...
Sem hora marcada
sem nos dizer nada
uma última palavra
escrita ou falada.
Assim é a vida...
No dia de sua partida
Apodi ficou mais pobre
perdemos um filho nobre.
Caíram-se as letras
como que
entristecidas
empobrecidas
meio perdidas
aturdidas
desfalecidas
pela sua partida
desperdida.
Nunca mais irias
manejá-las
uni-las
abraça-las
com aquele seu
jeito simples de
historiador
(Que dor!)
Penso que elas
ficaram de luto
assim como Apodi
formando um pranto
coletivo
nos livros abraçadas
entrelaças
manchando com
lágrimas as páginas
que nos deixastes
como patrimônio
Lembro-me
da última vez que o vi,
estavas com o olhar
perdido
reflexivo
observando as escadas
que davam acesso à
Biblioteca pública Machado de Assis
O que pensavas,
não sei,
Após alguns dias,
falecia
se esvaía
ia
O nosso amigo
mui querido.
Naquele dia
de melancolia
para Apodi e sua família,
chorei consternada
como tantos outros
por saber
que naquele caixão
não ia só o “Seu Valter’’, não!
Junto com ele,
ia parte do seu torrão
que ficara órfão de
um grande filho
um grande historiador
um grande escritor.
No seu velório,
pensei:
“Apodi precisa prosseguir
e as letras conduzir’’,
Por isso estou
aqui
tateando
tapeando
enfrentando
a Língua Portuguesa
(perigosa de dá dó)
Lutando
para não deixar morrer
a escrita
a leitura
Literatura
Cultura
Assim como tantos outros
têm se levantando
com as suas habilidades
não querem ficar
calados
estáticos
apáticos
aqui
ali
em Apodi.
A luta não encerra
vamos à GUERRA!
Tal qual
o inesquecível
Válter de Brito Guerra.

Vozes de um coração
Maria Luiza Marinho da Costa