As transformações verificadas nos últimos sessenta anos, na vida da sociedade apodiense, nos diversos aspectos do seu comportamento foram, de um modo geral, bastante acentuadas. 

Sobre o comportamento da família, em si, encontramos sensíveis diferenças no que diz respeito aos preceitos de obediência, de religião e da moral. Com relação aos pais, por exemplo, o hábito de o filho pedir a benção, atualmente, é coisa quase desconhecida, principalmente quando os jovens se aproximam da maioridade, Filhos fumar diante dos pais, antigamente era grande falta de respeito e um pecado na opinião de todos. Raríssimo o filho, que hoje, respeita este preceito. Ir a qualquer diversão sem avisar os pais, sem autorização, não era permitido. 

E quando para isto se ausentava, tinha hora marcada para retornar a casa. Moça ir a um baile sozinha, nem pensar. Impreterivelmente era acompanhada de uma pessoa de confiança, que a vigiava constantemente, apesar de o baile realizar-se em casa de família (particular), como era costume. Antes e deitar-se à noite para dormir a criança era obrigada a rezar diante da mãe e em seguida, pedir a benção. 

O mesmo ritual era feito pela manhã, ao levantar-se. Atualmente estes hábitos são muito raros. É um costume praticamente desaparecido. Com relação aos sentimentos de respeito às tradições religiosas, e dando uma olhadela para o passado, lembramo-nos de que beijar a mão do vigário era o respeito que ele imprimia à população. A benção do vigário era rigorosamente pedida por todos. Constitua uma forma de receber o conforto espiritual. 

A confissão particular e a comunhão eram atos de fé, devoção, praticados com muita confiança e religiosidade. Adota-se as confissão comunitária. As promessas feitas em público, naqueles tempos, com a esperança de obter graças ou milagres são atualmente, práticas raras. Ainda existem na Igreja – Matriz de Apodi, os cofres de Nossa Senhora da Conceição, de São João Batista e o cofre das almas, onde as pessoas colocam esmolas na intenção e com a fé de obterem graças para o alivio de males e sofrimentos.

O ato de colocar no cofre das almas ou dos santos uma moeda (esmola) traduz; simplesmente a fé, o desejo às vezes desesperado de alcançar uma graça, de ser amparado na hora da aflição. Apenas isto. A doação significa, na realidade, um pedido ao santo protetor.

Os trajes das mulheres, na igreja, no passado, tinham que ser muito discretos. Vestido comprido, abai-xo do joelho, sem decotes, véu, era assim que devia apresentar-se na casa de Deus, como exigia o velho sacristão da igreja do Apodi, Manoel José Dantas, de saudosa memória. 

Lembro-me de um vigário da paróquia de Apodi que não aceitava de bom grado na missa de quarta-feira de cinza, pessoas que tivessem brincado o carnaval. Pelo mesmo motivo não dava cinzas a essas pessoas
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Todos esses sentimentos, preceitos e usos como símbolos da fé e da crença em Deus e nos santos, estão quase todos os sepultados, esmagados pelas transformações modernas, que abriram os cami-nhões dos vícios e da desagregação da família.

Fonte: Apodi, Sua História - Válter de Brito Guerra