Evolução urbanística de Apodi - habitantes do "Quadro da rua'' nos anos de 1930 a 1950 (III) 

Na retentiva do tempo, há a certeza de que as nossas ruas representam nostálgicos CAMINHOS DA SAUDADE, com a presença marcante da arquitetura antiga das casas e casarões senhoriais que fizeram a história de Apodi. Observando-os com os "olhos do coração", somos assediados por estranha emoção, como se estivéssemos diante venerandos guardiões dos mistérios circundantes.

 Habitações de homens e mulheres que um dia lutaram, sonharam, construíram, somaram esforços para que a cidade galgasse os degraus do desenvolvimento urbano atual. As antigas denominações dos seis becos que ainda existem nas duas ruas que compõem o "Quadro da Rua" perderam-se nas cinzas do tempo, e assim, desapareceram os referenciais toponímicos dos becos da antiga "Rua da Matriz do lado do nascente", atual rua São João Batista, observando-se no sentido Cemitério/Lagoa: BECO DE LUZIA PURANA, BECO DE JOÃO DE BRITO, BECO DA PADARIA DE ANTONIO DUARTE. Passemos, agora, para os becos da antiga "Rua da Matriz do lado do poente", atual Rua N. Sra. da Conceição: BECO DE ANÁLIA DO HOTEL, BECO DE COTÓ, BECO DA MATANÇA (Atual beco do Banco do Brasil) que dava acesso ao antigo matadouro público municipal, situado ali por trás do Banco do Brasil, no alinhamento da rua Marechal Floriano. 

Trecho antes denominado de Ilha das Cobras hoje fica a praça Robson Lopes.
(Foto da década de 90)

Contextualizando, ainda, antigas denominações de lugares da cidade, vale ressaltar a importância do resgate histórico feito pelo nosso renomado historiador conterrâneo JOSÉ LEITE, em sua memorável obra "FLAGRANTES DAS VÁRZEAS DO APODI", Livro III, Vol. DCXXXIII, quando aborda a antiga denominação daquele trecho que engloba as casas situadas logo após a Igreja-Matriz (Nos dois lados) até a atual casa de Antonio Cabral e do outro lado da rua até a casa de Dorinha de dona Terta, cujo trecho tinha a estranha denominação de ILHA DAS COBRAS. 

 Segundo JOSÉ LEITE, este trecho reunia cerca de 20 casas até a década de 1950. Era a sede do REINO DOS PICHECOS, apelido atribuído à família FERREIRA LEITE, cujos componentes eram proprietários de 04 casas naquele trecho: Lino Leite, Luzia Purana, Thereza Leite, esposa de Manoel Elias e Cassimira Leite, sogra de Sêo João Soares.

Entre o décimo-sexto imóvel (Prédio São Vicente) e o décimo-sétimo existia (e ainda existe) o BECO DE JOÃO DE BRITO, atual beco que dá início à Rua Governador Dix-Sept Rosado. O décimo-sétimo imóvel era o casarão senhorial do Cel. Antonio Ferreira Pinto (25.05.1838/04.08.1909) comprado no ano de 1940 aos seus herdeiros, pelo Sr. JOSÉ BRAZ DE OLIVEIRA, conhecido popularmente como Zé de Cândido, casado com dona Amélia Sizenando. Infelizmente esse casarão foi demolido em 2008 pelo seu proprietário Raimundo da Cantina. 

 A décima-sétima casa era o sobrado de Olinto Ferreira Pinto, filho do Cel. Ferreira Pinto, e que desde a década de 1970 pertence ao comerciante Fernando Menezes, sobrado que tinha dois pavimentos superiores, conforme se vê na foto que encima o artigo parte 02. A décima-oitava residência pertencia ao Major FRANCISCO DIÓGENES PAES BOTÃO (Avô materno de dona Albaniza Diógenes), natural de Apodi, e filho do cearense de "Riacho do Sangue". Major Joaquim Sulpino Paes Botão e sua segunda esposa Isabel Sabina de Oliveira, casal-tronco da família DIÓGENES de Apodi. Francisco Diógenes era casado com Antonia Ferreira Pinto, filha do Cel. Ferreira Pinto, e foi Presidente da Intendência Municipal de Apodi, atual cargo de Prefeito (01.01.1904/31.12.1903 e 01.01.1911/25.08.1914). 

A décima-nona casa pertencia ao Sr. HERMINO TOLENTINO ALVES DE OLIVEIRA, antigo carcereiro público e homeopata (1843/24.08.1934), casado com Petronila Pastora do Patrocínio, filha do Padre Antonio Dias da Cunha. Sêo Hermino/Petronila foram pais de Sêo Emídio Dias, que por sua vez é pai de Altino (Pai de Vandinho Marinho) e de dona Adolfina Dias, mãe do velho Lalá Freitas.

Seguindo o roteiro histórico-sentimental das exponenciais figuras que habitavam o "Quadro da Rua" encontramos a vigésima casa pertencente ao fazendeiro JOSÉ MARINHO DA MOTA, casado com sua sobrinha paterna Zulmira Marinho, e que foram pais de (dentre outros) dona Santoza, casada com Altino Dias. A vigésima-primeira casa pertencia ao meu avô paterno ARISTIDES FERREIRA PINTO, casado com dona Cleonice Maia de Oliveira (D. Nicinha). 

A vigésima-segunda casa pertencia ao Sr. MANOEL JOÃO POMBO, casado com Antonia Pombo, que depois mudou-se para Fortaleza-CE, onde teve destacada atuação no comércio daquela praça. Esta casa foi adquirida pelo Sr. Raimundo Silvestre, casado com Ritinha, irmã de Mundica de Isauro Camilo. A vigésima-terceira casa pertencia ao fazendeiro LUÍS BARBOSA DE MELO, casado com Francisca Barbosa de Melo, (irmã de Enéas Barbosa, do sítio Água-Fria), , tendo falecido nesta casa a 17.12.1932, aos 50 anos de idade, deixando uma prole de 10 filhos, dentre eles o Sr. Juvancí Barbosa. Esta casa foi adquirida por compra pelo seu cunhado ENÉAS BARBOSA, do sítio "Água-Fria", casado com Marta Eulina de Melo e que foram pais das abnegadas professoras Mariinha Barbosa e Albaniza. 

A vigésima-quarta casa pertencia ao Sr. CARLOS BORROMEU DE BRITO GUERRA, casado com Maria Bezerra Guerra (dona Ná) e foram pais do profícuo historiador Valter de Brito Guerra. Essa casa foi adquirida na década de 1940 pelos "Correios e Telégrafos", que instalou sua Agência, onde funciona até os dias atuais. A vigésima-quinta casa pertencia ao comerciante TOMAZ FERNANDES, natural de Campo Grande-RN, casado que era com a Apodiense Maria José dos Santos, filha de Félix Soares, e em segunda núpcias com a também Apodiense Antonia Benevides. A seguir vem o BECO que dá início à atual Rua Cel. João de Brito.

Por Marcos Pinto -historiador apodiense
Matéria copiada do: Blog Potyline