Foto da igreja matriz de Apodi (1918)

É profundamente pungente a constatação de que as autoridades constituídas do município de Apodi sempre foram omissas quanto à necessidade da defesa e da preservação dos monumentos e imóveis que fizeram a história destas belas plagas da região oeste potiguar. Só no famoso e antigo "QUADRO DA RUA" foram demolidos 04 imóveis históricos pela fúria da especulação imobiliária, destacando-se a primitiva residência do português SIMÃO DO RÊGO LEITE, que casou em Apodi com Lourença Ferreira da Mota, filha do português Antonio da Mota Ribeiro. Simão e Antonio são troncos iniciais das honradas famílias LEITE e MOTA, disseminados na Várzea do Apodi. O casarão senhorial de Simão (Falecido a 09.10.1823) era aquele onde durante muitos anos funcionou o famoso "BAR SATÉLITE", ponto de encontro da elite Apodiense nas décadas de 60 e 70 (1960/1970), e que ultimamente vinha sendo ocupado pelo comerciante Erivan Marinho, na rua São João Batista. O antigo Cruzeiro-Mór da veneranda Igreja-Matriz de São João Batista e N. Sra da Conceição era um dos mais belos monumentos arquitetônicos da cidade do Apodi. 

Segundo reza a tradição oral, este monumental Cruzeiro foi edificado por volta do ano de 1856,como pagamento de uma promessa feita pelo povo da pequena Vila,em preito de fé e agradecimento à DEUS e aos padroeiros da paróquia,pelo fato da população não ter sido dizimada pela virulenta doença denominada de "Cólera Morbus". Os recursos para sua construção foram angariados pelo Padre FAUSTINO GOMES DE OLIVEIRA, que juntou recursos econômicos próprios para que a obra fosse concretizada,porém não alcançou a conclusão da construção do Cruzeiro,vindo à falecer no dia 05 de Fevereiro de 1856. Foi sucedido pelo seu parente o Padre FLORÊNCIO GOMES DE OLIVEIRA,que dirigiu a paróquia de Apodi no período Março de 1856 a Dezembro de 1857, tendo dado continuidade à construção e conclusão do monumental Cruzeiro. O Padre FAUSTINO foi o vigário que mais tempo dirigiu os destinos da paróquia de Apody, durante o período de 1813 à 05.02.1856.

Os habitantes da pacata vila eram sepultados ao redor desse Cruzeiro. Os que compunham as famílias tradicionais e abastadas da cidade eram sepultados dentro da Igreja-Matriz. O Padre Faustino está sepultado dentro da Igreja. Este monumento símbolo de fé cristã foi demolido de forma insana e descabida no ano de 1964, tendo sido recolhidos grande quantidade de restos mortais (ossos)de primitivos habitantes, e guardados em cerca de 12 latas(vazias) de querosene. Segundo Cabôclo de Manú (genitor da Prefeita Gorete) que dirigiu os trabalhos de demolição do Cruzeiro, as latas contendo os ossos foram encaminhados para a Capela do sítio "Soledade", de onde deram destino ignorado.Foi um grande ato de desrespeito para com os primeiros habitantes de Apodi. Caberia ao Sr. Vigário da Paróquia Amílcar Silveira solicitar ao Sr. Prefeito Izauro Camilo que mandasse construir um túmulo onde seriam guardados os restos mortais dos antigos habitantes,como um preito de respeito e gratidão. Triste fato que macula a bonita história do povo e da cidade de Apodi.

Por Marcos Pinto.