Dissertação: Purificação, Caracterização Bioquímica e Atividade Antimicrobiana de uma Albumina 2S da Torta da Mamona (Ricinus communis L.), com Atividade Inibitória de Tripsina 
Autor(a): Pedro Filho Noronha de Souza 
Curso: Bioquímica 
Instituição: Universidade Federal do Ceará - UFC 
Publicação: 2012 
Fonte do artigo: UFC 


Resumo: 
A mamoneira (Ricinus communis L.) é uma cultura importante para a região Nordeste do Brasil, onde, recentemente, tem sido utilizada para produção de biodiesel. O Nordeste detém 90% da produção brasileira de mamona, sendo o Ceará, o segundo maior produtor. No processo de extração de óleo das sementes de mamoneira para produção de biodiesel, o resíduo resultante, denominado de torta da mamona, representa um subproduto pouco utilizado. Apesar disso, essa torta é rica em proteínas e micronutrientes, como nitrogênio, fósforo e potássio, atributo que a qualifica como um insumo que poderia ser utilizado como adubo orgânico, ou mesmo como ração animal, o que lhe agregaria valor comercial. Todavia, seu uso como alimento não tem sido possível por causa da presença de elementos tóxicos e alergênicos (Ricina, Ricinina, Complexos Alergênicos) na sua composição, a não ser que passasse por processamento para sua destoxificação. Infelizmente, tecnologia economicamente viável para esse fim, em escala industrial, ainda é inexistente. Portanto, há necessidade de pesquisas que venham a agregar valor a esse subproduto abundante da cadeia produtiva do biodiesel. Assim, nesse contexto, o presente trabalho está inserido num projeto cujo objetivo maior é identificar, isolar, purificar e caracterizar novas moléculas bioativas da torta delipidada de sementes de mamoeira com potencial biotecnológico. Através de extração de proteínas solúveis com tampão Tris-HCl, 50 mM, pH 7,5, e fracionamento do extrato obtido com sulfato de amônio (50-75%), cromatografia de interação hidrofóbica em coluna Phenyl-Sepharose e cromatografia de troca iônica (DEAE-Sepharose) foi possível purificar uma albumina 2S, denominada Rc-2S-Alb, capaz de inibir tripsina. A Rc-2S-Alb apresentou massa molecular de, aproximadamente, 75,8 kDa, determinada por SDS-PAGE, mas, em condições redutoras, apareceu como uma banda maior de 15,8 kDa e outra menor com 10,5 kDa. Sua sequência NH2-terminal revelou haver similaridade (89%) com o precursor putativo da albumina 2S de R. communis já descrita, com a cadeia A da estrutura da RicC3 (89%), com a cadeia A da mabilin-1, ambas, também, de R. communis (89%), com a cadeia pequena de uma proteina “napin-like”de Brassica napus (89%). Em todas essas proteínas similares, dois domínios, QEVQRKDLS e YLRQS, são altamente conservados. Comparação da estrutura primária gerada por ESI-Q-TOF MS/MS, a apartir de 17 peptídeos trípticos da Rc-2S-Alb, mostrou similaridade de 43% com a Mabinlin-1 (pI/Mr de 6,7 e 29.3 kDa) de R. communis. Em relação à estrutura tridimensional da Rc-2S-Alb, ela apresentou similaridade com a de Ric C3 e Mabinlin-1. A Rc-2S-Alb foi incapaz de inibir a germinação de esporos dos fungos fitopatogênicos Fusarium oxysporum e Rizoctonia solani, mas foi capaz de promover a aglomeração dos mesmos. A Rc-2S-Alb também não foi capaz de inibir o crescimento micelial dos fungos Fusarium oxysporum, Fusarium solani, Rizoctonia solani e Collethotricum gloeosporioides. Por outro lado, a Rc-2S-Alb foi eficiente em inibir o crescimento de Pseudomonas aeruginosae, Klebsiella pneumoniae e Bacillus subtilis, todas as bactérias patogênicas a seres humanos, quando em baixas concentrações. Como conclusão, foi possível a purificação de uma nova albumina 2S da torta da mamona, capaz de inibir tripsina e com atividade antibacteriana importante. Assim, a Rc-2S-Alb deve ser explorada no sentido de verificar sua eficácia como um novo agente terapêutico alternativo no combate a bactérias resistentes aos produtos disponíveis, hoje, no mercado, o que, se confirmado, poderá contribuir para a melhoria da saúde humana.