Meu juazeiro fica ali no começo da Ladeira de Canto de Varas, no Sopé da Chapada do Apodi. Ele, uma árvore frequente nas caatingas do Nordeste, pertencente à família das ramnáceas, nasceu ali, de uma maneira que não sei explicar. Só sei que o conheci por aí por 1926, já crescido e com o mesmíssimo aspecto que se observava em 1976, quando o vi pela última vez. 

Eu o chamo de “meu juazeiro”, não porque me considere seu proprietário, e sim por ter sido ele o confidente-testemunha das minhas canseiras de menino pobre. Era junto ao seu tronco que eu, todos os dias, parava na sua sombra tentando descansar um pouco para, logo depois, enfrentar o resto da marcha rumo à cidade, pelo areal do Taboleiro Grande, com o sol já esquentando. 
Invariavelmente, aí pelas nove horas da manhã de cada dia de trabalho, nós nos encontrávamos, quando eu voltava a pé para a cidade, de mais ou menos uma légua de distância, em direção ao Sabiá, de José Medonça, ou à Soledade. 

Com profunda saudade, guardo do “meu juazeiro” as mais ternas lembranças, apesar de magoado pelo fato de jamais o ter visto carregado de juás, embora algumas vezes chegasse a florir. 
Todavia, continuo acreditando na amizade que nos unir por muitos anos, e estou certo de que não foi por maldade que ele nunca me deu juás, e sim devido ter ele nascido ali, no meio daquelas pedras da ladeira, tão secas que se torna difícil acreditar como foi que o pobrezinho chegou a sobreviver até agora. 

Aliás, a própria sombra do “meu juazeiro”, devido ao diminuto vigor dos seus galhos, só era encontrada junto ao seu tronco e por acomodação. 
Mesmo destas lonjuras onde vivo, ainda espero o dia de abraçá-lo novamente, meu querido juazeiro da Ladeira de Canto de Varas. 

Fonte: Flagrantes das Várzeas do Apodi - José Leite(Separata de Pré-Lançamento)