O que vi quando criança,
na Chapada do Apodi,
ufanava a todo mundo
que passava por ali.

As seriemas em bandos,
faziam bela alvorada,
e, as juritis cantando
enfeitavam a madrugada.

Eu vi o “quebrar da barra”
enfeitando a natureza;
vi o pau-branco florando,
num derrame de beleza.

Gatos do mato e veados,
nas veredas desfilando
e, as pombas e codornizes
com a asa branca cantando.

Logo na primeira chuva,
a manacá florescia
e espalhava o seu perfume,
tão logo acabava o dia.

Quando a rainha do prado
e o pau-d’arco floravam,
o horizonte era a festa
que todos admiravam.

Lá nas aguardas da várzea,
muito água-pé florescia,
e o seu perfume espalhava
tão logo o sol se escondia.

Marrecas voava em bandos,
nas várzeas, rios e lagoas,
juntas a tetéus e patos,
para enfeitarem as gamboas.

Papagaios e periquitos,
em revoada festiva,
pousavam de árvore em árvore,
numa busca infinitiva.

Como era bom o viver
naqueles tempos saudosos;
comendo frutos do mato,
de sabores tão gostosos.

E, que dizer da quixaba,
do cajá e do umari;
da carnaúba madura,
das várzeas do Apodi?

Cinquenta anos depois,
os recursos naturais,
sofreram depredações
como não se viu jamais.

Destruída a natureza,
sumiram-se os animais;
homens loucos devastaram
florestas e carnaubais.

Hoje, tudo é diferente;
tem linhas de transmissão,
tem pontes e viadutos,
veneno e poluição.

Tem asfalto em toda parte,
torres por todos os lados
e, até luz elétrica,
já chegou aos povoados.

Estamos no fim dos tempos,
e a vida some da terra
com os homens pensando apenas
nas suas fábricas de guerra.

Nota: Esta poesia, com o título original de “Início e Fim da Natureza”, agora substituído, foi premiada com destaque, pelo Grêmio Literário de Resende/RJ, em Concurso Nacional de Poesia, sob o tema “O Homem e a Natureza”, realizado em 1 de novembro de 1987, em comemoração ao cinquentenário do Pico Nacional do Itatiaia.