Vicente, meu irmão, meu companheiro!
Venho falar-te da minha saudade,
do nosso tempo lá no Taboleiro,
do nosso rancho, lá na Soledade.

Do cercadinho de Luís Garantizado,
do nosso açude, lá perto, bem vizinho,
das muitas coisas do nosso passado
e, do querido jumento Roxinho.

Dos banhos, nas Vertentes de Antonio Lima
e, do Juca, que morreu tão moço ainda,
das conversas e das broas de Salvina
e, das fofocas de Joaninha de Bemvinda.

De Bela Noronha, querida vizinha,
do velho Bevenuto, xarapa de papai,
quando eles dois bebiam uma caninha
e, até as flores de Maria Cai-Cai-Cai.

Das nossas pescarias, lá no Poço Fundo,
das muitas arapucas, de pegar canção,
vazantes do Despejo, que eram nosso mundo
e, da Baixa de Anedina, cheia de pinhão

Nossos saudosos banhos na Lagoa
e nos poços do Córrego de Raposo,
aquilo sim, é que era vida boa,
aquilo, agora eu sei, era vida de gozo.

E lembro ainda, o cabo Zé Olinto,
soldado João Manuel e velha Augusta,
aos filhos mudos do velho Elísio Pinto,
para quem, acredito, a sorte foi injusta.

Oh, meu velho e querido irmão Vicente!
Não te esqueci, jamais te olvidarei,
e embora a vida agisse separando a gente,
mesmo distante, eu sempre te amarei

Flagrantes das Várzeas do Apodi - José Leite(Separata de Pré-Lançamento)