Batata assada no chão,
feijão com carne e toucinho,
café coado na terra,
arroz com leite quentinho,
mangará de xique-xique,
fuçura de carneirinho,
fogão com trempes de pedra
e milho verde assadinho.

Bolinho de pé-de-moleque,
aluá de milho assado,
panelada de carneiro,
baião de dois com guizado,
cocada de rapadura,
trigo maduro torrado,
mungunzá com costelinhas,
arroz com coco ralado.

Açúcar preto e chouriço,
caldo de cana coado,
garapa azeda e limão,
cuscuz ao pé de alambique,
queijo com côco ralado,
esteira em lugar de mesa
e toco pra estar sentado.

Caldo de maracujá,
e castanha de caju,
ovo estalado em toucinho,
cajá, cajarana, imbu,
carne de porco do mato,
de veado e de inhambu,
cantiga de seriema
e o planar do urubu.

Manga chupada no pé,
arroz doce com canela,
mel tirado do cortiço
e feijoada de panela,
marreca assada na brasa,
prato lavado em gamela,
desmancha de mandioca,
casa com porta e janela.

Canjica de milho verde,
feijão verde temperado,
cuscus de milho com leite,
com ovos e peixe assado,
pamonha doce com nata
e carne fresca de veado,
cajazada com banana
e mel de furo coado.

Banho de cuia ou gamela,
em tronco de bananeira,
água colhida em cacimba,
e frutos de quixabeira,
dormir a sesta roncando
em sombra de umarizeira,
subir em coqueiro velho
e trepar em tamarineira.

Café torrado no caco,
doce com cravo e canela,
beiju assado no forno,
comida feita em panela,
pirão de farinha d’água,
pra se comer na janela,
feijoada ao mocotó,
goiaba e siriguela.

Aluá de abacaxi,
queijo de coalho salgado,
pão de macambira fresco,
batata com peixe assado,
fuçura de milho torrado,
carne-de-sol com farinha
e arroz com coco ralado.

Pegar tatu sem cachorro,
atirar de baladeira,
pegar canção de arapuca
e ter jantar de macaxeira;
ficar um tempo sentado
em galhos de goiabeira,
andar montado em jumento,
dormir deitado em esteira.

Viver em rancho de palha,
tomar banho de “beira-e-bica”,
comer milho verde assado,
tomar café com canjica,
tirar inchu pelos matos,
ter calçado de pelica,
rodar em João Galamarte
e abominar gente rica.

Fazer plantação no seco,
chegar terra no feijão,
rezar esperando chuva
para alegrar o sertão;
dançar o São João na roça,
bem alegre e folgazão,
soltar traque e buscapé,
bombinhas e foguetão.

Fumar cigarros de palha,
tomar banhos na lagoa
e, nos dias sem maretas
ficar remando em canoa,
deixar em rede de alpendre,
comer sequilhos e broa,
não ter aborrecimentos
e estar sempre numa boa.

Acordar com serenata
ouvir a banda tocando,
em alvoradas e salvar.
Nosso São João festejando,
não se meter em fuxicos.
ou com quem vive brigando,
fazer boas amizades
e deixar o tempo ir passando.

Madrugar em pescaria,
com tarrafa e com anzol,
comprar pão na padaria,
antes do nascer do sol,
calçar botinas de lona
e ir jogar um futebol,
subir ladeiras a pé
e não pisar em caracol

Escruvitiar em cavalo,
correr mundo sem chapéu,
calçar tênis “pés de anjo”,
ver as estrelas no céu,
não brigar com arma branca,
nem se meter em escarcéu,
não brigar co arma de fogo,
pra não ir pro beleléu.

Flagrantes das Várzeas do Apodi - José Leite(Separata de Pré-Lançamento)