Lá no bairro do Cruzeiro,
num Setor Especial,
existe um apartamento
na novíssima Octogonal,
tudo muito bonitinho,
tudo muito especial;
residência do George,
na Corte Nacional.

Tem escada e elevador,
várias grades de prisão,
tem rádio, som, telefone,
salas com televisão,
tudo muito arrumadinho,
com móveis em profusão,
aquela casa, meu povo,
mexeu com meu coração.

Lembrei meu velho Apodi,
vi o rancho da saudade,
da Lagoa do Arroz,
pertinho da Soledade,
vi milha e carrapicho,
e, adjuntos de amizade,
recordei limpa de enxada
e revivi minha humildade.

Revi a boca da Mata,
Seu Eduardo Targino,
Lajeiros da Soledade
e o velho Chico Justino
sonhei com as feijoadas,
que comi, quando menino,
lembrei dias de trabalho
ao lado de João Rufino.

Diviso o velho Cornélio,
vendendo fosco a tostão
e vejo o trabalho esforçado,
do amigo João Beltrão,
o velho Lúcio Agostinho,
a soltar um foguetão,
revejo Mané Custódio,
com um baralho na mão.

Lembro Mariquinha Torres,
Zé Baité e Chico Mota,
Pirralha e Chico Maurício,
Zequinha e Senhor de Cota,
Luiz Sapo e José Tito,
Seu Beija e Maria Mota,
Ana Rosa e Adrião,
Pequé e Cachorra Morta.

Recordo piaba assada
e o bom pão de macambira,
lembro a cachaça e as brigas,
do velho Zé de Delmira,
revejo Manerculano,
Raimunda de Cassimira,
Raimundo de Possidônio,
Chica Pelada e Eulira.

Vejo o velho Bráulio Dantas,
com a tarrafa na mão,
e, o Raimundo de Libiu,
bebendo num garrafão,
lembro o velho Miguelzinho,
arrastando os pé no chão,
vejo Vicente de Bréo,
matando onça a facão.

Relembro Zé Filomeno
e também, Pedro Pinheiro,
que casou lá pras Marrecas,
com filha de fazendeiro,
um bom tocador de fole,
no salão ou no terreiro,
recordo Cecílio Torres
e o velho Moisés Ferreiro.

Saudosamente eu recordo,
as festas do Padroeiro,
banhos no Poço Vermelho
e o Henrique Fogueteiro,
Poço Fundo e Pedro Lúcio,
Dodô e Pedro Loiceiro,
Xandu do Corgo e Taxica,
doce do Genipapeiro

Lembro o velho Zé Reinaldo,
caçador experiente
e, Lino de Vicentinho,
cabra muito inteligente,
Apodi – cidade pobre,
Brasília – cheia de gente;
o nosso destino, filho
nos satisfaz plenamente.

Veja o Sol como é bonito,
oh seu Antonio de Purana;
olha o jumento perneta,
carregando o João de Ana,
móvel bem envernizado,
foi mão de Chico de Joana,
limpa o trombone menino,
senão Profírio se dana.

Baixa do velho Luiz,
onde fiz o meu açude;
José Ivo e Benedita,
Jandaíra que se cuide;
milho verde e cajarana,
encomenda de saúde,
mãezinha bem carinhosa,
Deus queira que nada mude.

Seu Aquilino Raposo,
Cassimiro e Pedro Bota;
Joana de Lúcio e Cotó,
Filó e Maria Mota,
Luiz Morais e Pintinho,
Baião e Chico de Cota,
a catacumba do cólera,
Pé de Quenga ou perna torta.

Se a área octogonal,
lembra Apodi – velho Lino,
um velho muito esquentado,
verdadeiro desatino;
recorda Dona Chaguinha,
meu filho, meu bom menino,
agradeçamos aos velhos,
por todo o nosso destino.

Flagrantes das Várzeas do Apodi - José Leite(Separata de Pré-Lançamento)