Findou-se o dia
cessou-se a luz
na terra da barragem
de Santa Cruz.
Uma pausa...
A lagoa do Apodi
passa agora
a refletir
a lua
as estrelas
com se fora
um espelho
a reproduzir
a imagem
miragem?
dos adornos
que a rodeiam
Um santuário
que a natureza
ainda mantém
de pé,
lagoa agredida
agoniza
ferida
No entanto,
em meio ao pranto
das águas poluídas
da nossa lagoa querida
soa uma canção...
Quem canta
encanta
um coração preso
à janela
como Rapunzel
olhos fitos no céu
a absorver o mel
Que doçura
formosura
com gotículas de amargura.
Paira no ar
uma emoção
lirismo
nostalgia
resquícios de poesia
melancolia
que se alastra
ecoando pelas praças
traduzindo
introduzindo
seduzindo
os sentimentos
E eu aqui dentro
como num conto de fadas
pensando,
sonhando...
Pena que eu não sou
Cinderela
Rapunzel
não tenho carruagem,
sequer uma alta janela
mas um coração
em ação
que consegue
traduzir
o sentir
de um outro coração
lá fora que agora chora
a sofrer e a sorrir
conduzir
sentimentos antagônicos
lá aqui
pelas esquinas da vida
pelas avenidas do ser
E eu aqui
dentro
refém de mim mesma
sem nada poder fazer.
Da minha pequena
janela
singela
tenho um pedaço
do céu estrelado
que me faz sonhar
gritar
silenciosamente
intrinsecamente
secamente
pequenos versos
do poeta Paulo Leminski:
“Amor, então
também, acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva
ou em rima’’.
Lá fora a canção continua...
Anoiteço
Adormeço.

"Vozes de um coração''
Maria Luiza Marinho da Costa