Relata a trajetória de uma pessoa muito especial: POUCAS E BOAS DE VICENTE MAIA. Sua história conhecida pela população apodiense, é simples, porém irônica, apesar de sua fama de valente, este afirmou nunca ter brigado, a resolução de seus problemas arranca gargalhadas por parte dos ouvintes...

São muitas e tentarei lembrar algumas. Como iniciar? Vou memorizar a entrevista feita em novembro de 1998, na oportunidade, ele resgatou alguns fatos da juventude; como todo jovem, ele gostava de ir aos bailes e certa vez ao convidar uma moça para dançar esta afirmou está cansada e Vicente retrucou: 
- Eu não estou lhes chamando pra correr e sim para dançar; contudo continuou a convidar outras jovens e depois de ser recusado por todas ficou “encabulado” e decidiu acabar com o baile, porém ser alardes perguntou ao sanfoneiro quanto ele dava na sanfona e comprou-a, acabando a diversão, principalmente das moças. 

Outra feita este foi convidado por um amigo e ao chegar a festa não conseguindo uma dançarina, o dono da festa que também era o sanfoneiro, ofereceu-lhe sua esposa para dançar, e estes dançaram a noite toda; Passado alguns dias o sanfoneiro vai vender a sanfona e o Maia agradecido pelo gesto “solidário”ocorrido na festa, compra o instrumento, mas em seguida o entrega novamente alegando ter se “divertido” com a esposa deste e, portanto, merecia ficar com o presente, o amigo saiu todo contente... Outros fatos ocorreram quando este era magarefe e os seus colegas da época presenciaram.

Uma vez o freguês comprou uma costela de boi e esqueceu-se de levar para casa, seria normal se este não morasse na zona rural e viesse a rua só aos sábados; porém Poucas e boas de Vicente Maia, decidiu guardar a encomenda por consideração, imaginem a podridão que ocasionava aquela danada, pois bem... Chegando finalmente o sábado, o cliente comenta o esquecimento e pede para pesar outra costela; 
Vicente já agoniado com o fedor da anterior esbravejou: - Não senhor, você vai levar aquela que deixou aqui! E o coitado teve que levar a carne podre. 

Vicente era uma pessoa caridosa, sempre que os amigos precisavam recorriam a ele; Certa vez um compadre veio tomar emprestado sua bicicleta para fazer uma viagem, garantindo devolver logo que voltasse; passado algum tempo sem que a bicicleta fosse entregue, e,Vicente foi a casa do compadre e, ao invés de pedir de volta, tomou por empréstimo, o outro envergonhado entregou-a; Logo que retornou Vicente foi entregar a bicicleta ao compadre,este retrucou :- Compadre essa bicicleta é a sua!, e este respondeu: se fosse minha, estava lá na minha casa e eu não precisaria tomar emprestado... Vicente deixou a bicicleta e foi embora. A lição dada ao compadre por ele ter descumprido a promessa,lhes saiu cara, pois perdeu a bicicleta;

Outra profissão que exerceu até aos 96 anos foi de comerciante, junto a sua filha Alba,que testemunhou os fatos da época;

A CAZA LIMA prédio situado no centro comercial, foi um sortido comércio varejista, também conhecida pela bodega de seu Vicente. São inúmeras histórias... certa vez, uma senhora muito “ranzinza” veio comprar 1 litro de querosene (combustível usado nas lamparinas para iluminar as casa antes da chegada da energia elétrica), porém ao receber a freguesa reclamou que não estava cheio; Vicente colocou novamente o litro para completar e foi sentar-se na calçada, a mulher percebendo que ia derramar chama seu Vicente e este responde: - Deixa o litro encher.. Deixa o litro encher... E só entregou o litro quando esvaziou o depósito. Novamente o prejuízo foi para este, que não aceitava ser questionado quanto a sua honestidade. 

A bodega também era o ponto de encontro, na época das eleições, os políticos vinham até lá; um cidadão candidato a vereador, ao passar pela feira fazendo campanha política decidiu falar com este: -Amigo,serei candidato a vereador e espero contar com o seu voto... contudo, seu Vicente respondeu sem papas na língua; -Se candidato eu fosse e você me oferecesse o voto, eu não aceitaria, quanto mais eu votar em você. O candidato saiu desconfiado, vendo que se dependesse daquele eleitor, ele não seria vitorioso.

Outra vez, foi o candidato a Deputado Estadual, Patrício Jr, visitar o correligionário, chegando na bodega, escondeu-se por trás da porta, para surpreender seu Vicente e quando o candidato foi ao encontro do amigo todo sorridente; Vicente muito sisudo responde: - Que tipo de candidato é você que além de aparecer só de 4 em 4 anos ainda vai se esconder? Então o candidato viu que daquela mata não ia sair coelho.

Vicente tinha como “passatempo” uma casa de jogo e era capaz de ficar horas jogando baralho; certa vez já bastante cansado, este deu um cochilo e quando acordou e foi ver seu jogo, percebeu que estava pronto para ganhar e virou a mesa; - Eu não vou jogar, se eu dormindo estou com este jogo, imagine vocês que deram as cartas: Saiu e foi para casa deixando os jogadores admirados com a sua sorte. 

Outra vez ,estava jogando, e um dos jogadores tirou a camisa,Vicente olhou e sem nada dizer, sisudo, tirou toda a roupa; Os jogadores admirados, perguntam que é isto seu Vicente? este responde: É para saber quem é o dono da casa!.

Certa tarde, Vicente e seus parceiros estavam jogando na calçada e começou a neblinar, e eles entraram para casa, passado a neblina, saíram e novamente começa a chuviscar; três vezes consecutivas e Vicente já “amuado” e, na quarta vez ,os colegas entraram e sentado ele ficou; só que desta vez foi um “toró” de chuva e Vicente ficou todo molhado, mas não saiu, imagine o tamanho da brutalidade?
Ainda encabulado com o banho de chuva tomado na tarde anterior ,seu Vicente foi consertar o telhado de sua casa e passando um dos colegas, pergunta: -Tá fazendo o que ai encima da casa Vicente? Ele retrucou: -Tô cavando uma cacimba!!! resposta sábia para uma pergunta tola, não acha??

Outro jogo que Vicente gostava era o “jogo do bicho”, famoso por ter bons “palpites”, era capaz de interpretar sonhos e por causa deste dom, era muito solicitado; Uma senhora procurou Vicente explicando que havia sonhado com ele: - Qual o bicho deveria jogar? Vicente orgulhoso pelo sonho da senhora aconselhou-a jogar no coelho ou no leão; então ela tomou emprestado o dinheiro a este e prometeu pagar–lhes depois do resultado. Não deu outra, o bicho fora de acordo com o palpite; Vicente contente por ter acertado, ao encontrar a senhora,indagou: - Ganhou um dinheirinho heim? Esta muito constrangida respondeu: -Não seu Vicente, eu joguei foi no veado. Vicente sentindo-se humilhado, feito um leão furioso, retruca:- Deixe para jogar no veado quando sonhar com seu marido....(não se sabe a intenção da pobre, se era não dividir o “apurado”, ou uma desfeita amorosa).

O tempo foi passando... E vem as preocupações com as donzelas Anilda e Alba;

Moças famosas pela formosura, principalmente Neguinha, como era conhecida Anilda,não é que ela se apaixona por Galdino; considerado “Dom Juan”, namorou quase todas as moças do pedaço porém se engraçou com a filha de Seu Vicente e decidiu casar-se com ela; só que não teve coragem de enfrentar o velho e decidiram fugir. Marcaram dia e hora, Galdino encostado no muro esperando Anilda... porém quem apareceu foi Vicente que, desconfiado ,perguntou: - O que você esta fazendo aqui de madrugada?

O outro, apesar de também ser considerado valente, tremeu pois, Vicente era mais
ignorante e gaguejando respondeu: - Eu vim roubar sua filha; A surpresa foi grande, para aquele pai que considerava sua filha tão “bem criada” e esta querer casar com um ex-prisioneiro, mas não perdeu o controle, pelo contrário, surpreendentemente, mandou o rapaz entrar, chamou sua esposa D.Lúcia, mandou acordar Anilda e disse: Você tem certeza que quer fugir com este sujeito? Diante da afirmativa, Vicente fez os preparativos para o casório e desta união, tiveram seis filhas: Fátima, Aila, Marilú, Marly, Helena e Jacira, prova de que Vicente não era controlador, apesar de não concordar, por justa causa, o jovem era aventureiro, namorador, ou seja, tinha as características parecidas com as suas, e por isso, não deveria ser bom esposo; Infelizmente ele estava correto,pois Galdino continuou farreando e de fato quem cuidou da grande família até ficarem independentes fora “Papai” Vicente.

Por: Marly Maia 
Retirado do facebook: Grupo: Poucas e Boas de Vicente Maia